companheiro
on: 19 de março de 2013 | 0 opinions ★
Não como se fosse hoje,
Porque algumas já têm uns bons anos
contados.
Mas como se fosse amanhã,
Porque, eu e tu,
Somos um livro aberto.
Sempre foste o meu companheiro.
De todas as batalhas.
Todas as aventuras.
Todas as manhãs em que foste (e és) o meu
despertador.
Todas as viagens ao colo, desde a cama até
à banheira.
Todas as horas torcidas pelas cócegas que
me fazias.
E até o dente que me partiste, numa dessas.
Hoje não queria o dente de volta,
Porque ganhei muitas gargalhas.
Com elas, muitas sopas dadas à boca
E meias palmadas,
Mas só meias: nunca usaste mais do que
aquele olhar
Que me doía mais do que qualquer castigo.
Todas as tardes passadas na praia,
Até às cinco, cambalhotas na areia;
Depois das cinco, bóia na água.
Só tu tinhas paciência
Para a minha impaciência de criança.
Sempre foste o meu companheiro.
De todas as batalhas.
Todas as aventuras.
Foste tu que me ensinaste a escalar rochas
E não ter medo do mar.
Contar não pelos dedos,
Mas pelas estrelas.
Mostraste-me o mundo.
Viajámos juntos lés a lés.
E lembro-me, lembro-me tão bem.
De cada paisagem,
Dos sítios mais bonitos,
Daqueles que parece que Deus se esqueceu
E também dos museus que via em cinco
minutos,
Enquanto tu ficavas lá horas.
Lembro-me tão bem.
Era o teu ar enternecido,
Enquanto eu tocava piano.
E as minhas músicas de criança,
Que acompanhavas à guitarra.
Lembro-me de cada música,
Cada nota musical ou acorde.
Tão bem como o timbre da tua voz,
A chamar o meu nome,
Quando me lembrava de ir à procura de
'manos'
E me perdia no supermercado.
Sempre foste o meu companheiro.
De todas as batalhas.
Todas as aventuras.
Todos os beijos.
Todos os abraços.
Os conselhos de velho
E as utopias de novo.
Todos os sonhos que desenhámos juntos
E concretizámos da mesma maneira.
Todos os que não me deixaste sonhar,
E poupaste uma asneira.
Todos os amuos,
Porque ambos sabemos o que é teimosia.
Mas, hoje, aproveito para te dizer
Que também és muito giro zangado.
Todas as conversas por terminar
Sei que terminaremos um dia.
Há coisas que só se compreendem
Quando se vive cinco décadas
E se colecciona alguns cabelos brancos.
Afinal, não são precisas mais conversas,
Há palavras não ditas
Que dizem mais que um poema.
E ainda temos o dicionário todo para ler.
Há ainda palavras que
Por mais que se digam
Nunca serão suficientes.
Nunca perderão o seu valor.
Eternas.
Imutáveis.
Infinitas.
Verdadeiras.
Como obrigada.
Obrigada.
Obrigada,
Por pensares sempre no que é melhor para
mim.
Como admiro-te.
Admiro-te.
Admiro-te,
Por quem és e por aquilo que sou quando
estou contigo.
Como amo-te,
Amo-te.
Amo-te,
Mais a cada dia.
Como sempre.
Sempre.
Para sempre,
Porque pai é pai
E é insubstituível,
É o melhor,
É o nosso.
É família
E a família é para sempre.
Hoje sou filha,
Amanhã serei mãe.
Tal como tenho aprendido,
Assim ensinarei.
E espero ter-me tornado
Pelo menos metade do que desejaste para
mim.
A outra metade
Fica para o resto da vida.
Sempre foste o meu companheiro.
De todas as batalhas.
Todas as aventuras.
Dos dias mais felizes
E das lágrimas enxutas.
Das maiores vitórias
E dos fracassos menos pequenos.
Dos desenhos pintados fora do risco,
Mas que eram os melhores
Porque eram meus.
Sempre foste o meu companheiro.
De todas as batalhas.
Todas as aventuras.
Caminhamos lado a lado
Ou ao colo
Ou às cavalitas.
Sempre foste o meu companheiro
E sempre serás.
Quando já não tivermos pernas para andar,
Vamos a voar.
Mas juntos, pai,
Sempre juntos.